Erros Comuns na Seleção de Vestimentas de Proteção contra Arcos Elétricos

Parte 1 – Lições da NFPA 70E e Perspectivas Atuais

Por Maria Chies

O arco elétrico é uma das ocorrências mais perigosas em ambientes industriais e de manutenção elétrica, capaz de gerar temperaturas superiores a 20.000 °C, ondas de choque, pressão, ejeção de materiais fundidos, luz extrema, entre outros fatores de risco aos trabalhadores. A análise de riscos nesse sentido torna-se complexa e ao mesmo tempo dinâmica, pois os efeitos danosos do arco elétrico podem sofrer mudanças a depender de alterações que constantemente são aplicadas ao sistema elétrico.

As vestimentas de proteção contra arco elétrico são um dos principais Equipamentos de Proteção Individual (EPI) empregados para proteção contra os efeitos térmicos diretos desse fenômeno.

Você sabia que a escolha inadequada dessas vestimentas ainda é um dos principais desafios enfrentados por profissionais de engenharia e segurança do trabalho?

Este artigo examina os erros mais comuns da má escolha e uso dessas vestimentas, com destaque para a aplicação incorreta da norma internacional NFPA 70E e que gera implicações no contexto dos acidentes com eletricidade. Assim, vamos esclarecer alguns pontos que são dúvidas constantes e acabam impondo barreiras futuras às empresas na opção pela seleção correta das vestimentas de proteção térmica.

Principais erros em relação a norma NFPA 70E

A NFPA 70E é uma norma norte-americana de referência internacional para segurança em instalações elétricas. Apesar de sua ampla utilização, sua aplicação incorreta é recorrente. Entre os erros mais comuns destacam-se:

  1. Uso de tabelas genéricas sem estudo de energia incidente: a seleção por categoria de EPI (tabela e 130.7(C)(15)(c) da NFPA 70 E) realizada de maneira generalizada levando aos riscos de sub ou superdimensionamento das vestimentas de proteção.

  2. Interpretação incorreta dos limites de proteção: há confusão comum em relação faixas de energia por categoria e por energia, dadas em cal/cm² pela norma (tabelas 130.7(C)(15)(a), 130.7(C)(15)(b) da NFPA 70E). Muitos profissionais acreditam que os valores tabelados são típicos para qualquer instalação ou mesmo que o EPI de uma categoria está adequado a uma faixa ampla de proteção.

  3. Desconsideração sobre a dinâmica da distância de trabalho: erros na consideração da movimentação no cálculo de energia incidente, desconsideração sobre ambientes confinados ou reclusos (atividades aéreas), ou análises de riscos desatualizadas comprometem a segurança da seleção.

  4. Considerar um único ensaio têxtil de ATPV para a escolha da vestimenta: a escolha baseada apenas no valor de ATPV do tecido que está contido em um certificado de uma vestimenta de proteção térmica pode omitir um histórico de variabilidade real do material. Por exemplo uma vestimenta com certificação por um ATPV de 12 cal/cm² pode ter sido construída com um tecido que apresenta em seu histórico um valor médio de 10 cal/cm² e um mínimo de 8 cal/cm², no entanto o fabricante decidiu utilizar um valor máximo obtido nos ensaios, no caso de 12 cal/cm² para obter seu certificado. Quem irá garantir que esse valor será representativo?

Além desses pontos fundamentais a falta de conhecimento sobre o real significado da seleção por categoria de EPI e que ela representa um cenário muito limitado de equipamentos e parâmetros elétricos operacionais máximos, bem como distâncias mínimas de trabalho, levam a confusão muito comum de tentar enquadrar as categorias de EPI para qualquer aplicação sem uma real análise de riscos e estudo aprofundado do sistema.

Quanto a problemática de confiar em um certificado, hoje sabemos que o processo de ensaio de ATPV tem variação expressiva quando olhamos para um histórico. É fato que um certificado de uma vestimenta estará embasado em um único certificado do ensaio têxtil de ATPV, mas o histórico de um fabricante de tecido pode revelar muito mais.

Como melhorar uma especificação técnica de vestimentas para arco elétrico

Para garantir uma especificação eficaz, devem-se considerar os seguintes critérios:

  • Definir a energia incidente por tarefa ou área da instalação, com a distância de trabalho e equipamentos associados, com base em estudo conforme as normas técnicas de referência (Indicadas na NFPA 70E, OSHA, NESC – e no Brasil o compêndio pode ser encontrado na ABNT NBR 17227).

  • Selecionar tecidos certificados conforme ASTM F1506, com indicação clara do ATPV e índice de inflamabilidade.

  • Inclusão de exigências sobre design das peças (ex: fechamento com velcro oculto, gola alta, punhos ajustáveis).

  • Requisitar rastreabilidade e datas de validade do EPI.

  • Referência cruzada com legislações nacionais (NR 6, NR 10, NBR 17227) e Portaria MTP 672.

  • Solicitar histórico robusto de ensaios de ATPV, de preferência feito em diferentes laboratórios, mas sempre buscando laboratórios Independentes e Acreditados.

  • Realizar provas de campo com envolvimento de toda a equipe técnica e de trabalhadores para relatar e avaliar aspectos de conforto, liberdade de movimentos, adequação à atividade laboral específica. As provas de campo permitem analisar características importantes como a capacidade de uso integral da vestimenta mantendo o conforto e mobilidade do trabalhador.

Mas quais aspectos adicionais que podem aprimorar uma especificação de vestimenta de proteção térmica?

Um aspecto importante são as avaliações ou provas simuladas. Empresas que investem nesse tipo de estudo, realmente colocam a prova e implementam ações de melhoria reais em suas peças de vestuário. Isso pode ser solicitado ou mesmo organizado durante o processo de aquisição na forma de auditoria.

A importância de um histórico de ensaios laboratoriais de tecidos

A prática de conhecer histórico dos ensaios é muito importante e permite avaliar o quanto o fornecedor têxtil está comprometido com as informações que ele fornece, e seu rigor em adotar parâmetros sempre mais conservativos do ponto de vista da segurança, como a menor resistência ao arco elétrico (por exemplo o ATPV) estatisticamente relevante dentro do histórico.

O histórico de ensaios permite:

  • Identificar inconsistências entre lotes.

  • Verificar a manutenção dos parâmetros de desempenho ao longo do tempo.

  • Garantir que não houve alteração na composição de fibras ou acabamento.

A variação em ensaios de resistência ao arco elétrico, mais especificamente o ATPV, foi tema das últimas edições do IEEE ESW (EUA) e também do IEEE ESW Brasil, edição do evento de grande importância na América Latina e que vem ganhando cada vez mais protagonismo em segurança no trabalho e que tem patrocínio da Westex: a Milliken Brand.

Os trabalhos apresentados nesses eventos mostram dados muito importantes que já trouxemos em nossos artigos desse ano. Variações expressivas ainda sob consideração dos pesquisadores atingem valores de 40 % ou mais nos ensaios de ATPV.

Mas, dentro de um cenário de alta variabilidade, é preciso realmente prezar por um histórico muito robusto que somente os fabricantes de mais alto nível conseguem prover. A tendência em declarar valores máximos obtidos em séries de ensaios vem se consolidando no mercado, com um crescimento de 13 % para mais de 20 % dos valores declarados estando acima da média histórica dos produtos, conforme os artigos publicados recentemente.

Desta forma, é preciso muita atenção ao especificar sua vestimenta de proteção térmica e o desenvolvimento da proteção junto aos fornecedores, exigindo transparência no fornecimento de dados é fundamental.

O compromisso dos tecidos e vestimentas com o meio ambiente

A sustentabilidade é um requisito fundamental para qualquer empresa da atualidade. Não é mais possível planejar qualquer processo sem a visão de garantir um mundo mais sustentável as gerações futuras.

Você pesou nisso em seu planejamento e desenvolvimento de sua especificação técnica?

Cada vez mais a exigência de certificação dos processos e da garantia da sustentabilidade desde a aquisição até a remoção de uso de uma vestimenta de proteção tem se tornado um requisito nas especificações técnicas de EPIs dentro das empresas mais comprometidas com a sociedade e o planeta.

Especificar um tecido com certificação OEKO-TEX® por exemplo, traz vantagens claras, principalmente quando a preocupação não é apenas com desempenho técnico (proteção térmica, mecânica etc.), mas também com segurança química, imagem corporativa e conformidade legal.

Especificar um tecido com OEKO-TEX® é adicionar uma camada extra de segurança química e credibilidade, especialmente relevante para vestimentas de uso prolongado, de contato direto com a pele ou que serão usadas em ambientes de calor.

Ele não substitui certificações de desempenho térmico, mas complementa o pacote de requisitos, agregando valor para o usuário final e para a empresa compradora.

Está gostando desse tema? Então fique atento a nossa próxima publicação com a segunda parte de nosso artigo!

Referências

Você pesou nisso em seu planejamento e desenvolvimento de sua especificação técnica?

Cada vez mais a exigência de certificação dos processos e da garantia da sustentabilidade desde a aquisição até a remoção de uso de uma vestimenta de proteção tem se tornado um requisito nas especificações técnicas de EPIs dentro das empresas mais comprometidas com a sociedade e o planeta.

Especificar um tecido com certificação OEKO-TEX® por exemplo, traz vantagens claras, principalmente quando a preocupação não é apenas com desempenho técnico (proteção térmica, mecânica etc.), mas também com segurança química, imagem corporativa e conformidade legal.

Especificar um tecido com OEKO-TEX® é adicionar uma camada extra de segurança química e credibilidade, especialmente relevante para vestimentas de uso prolongado, de contato direto com a pele ou que serão usadas em ambientes de calor.

Ele não substitui certificações de desempenho térmico, mas complementa o pacote de requisitos, agregando valor para o usuário final e para a empresa compradora.

Está gostando desse tema? Então fique atento a nossa próxima publicação com a segunda parte de nosso artigo!

Referências

  1. NFPA. NFPA 70E: Standard for Electrical Safety in the Workplace. Ed. 2021.

  2. IEEE. IEEE Std 1584-2018 – Guide for Performing Arc Flash Hazard Calculations. IEEE, 2018.

  3. ASTM International. ASTM F1506 – Standard Performance Specification for Flame Resistant and Arc Rated Textile Materials.

  4. IEC 61482-2:2018 – Live working – Protective clothing against the thermal hazards of an electric arc

  5. MINISTÉRIO DO TRABALHO E PREVIDÊNCIA. Portaria MTP nº 672, de 8 de novembro de 2021.

  6. ABNT. NBR 17227: Vestimenta de Proteção contra o Arco Elétrico. Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2023.

  7. EASYPOWER. Ten Most Common Errors in Arc Flash Studies. Disponível em: https://www.easypower.com

  8. CSE Magazine. Criteria for Selecting Arc Flash Protection Techniques. Consulting-Specifying Engineer, 2014.

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