
Parte 1 – Segurança em vias públicas, ambientes amplos e de alta complexidade
A cena é comum em grandes cidades e áreas industriais: trabalhadores expostos em rodovias, ferrovias, obras urbanas ou manutenções emergenciais em redes elétricas. A dinâmica dessas atividades cria um cenário de risco permanente, não apenas pelo contato potencial com energia elétrica e outras fontes de perigo, como produtos químicos inflamáveis, mas também pela proximidade de veículos em movimento e a limitação de visibilidade natural.
Você já parou para pensar que nesses ambientes, mesmo a luz do dia, a vestimenta de alta visibilidade com proteção térmica não é um luxo, mas sim a linha tênue entre o trabalho e um acidente que pode ser fatal?
A diferença da proteção integrada
O grande avanço das vestimentas de proteção térmica de alta visibilidade (High-Vis), desenvolvidas com tecidos que unem propriedades fluorescentes e resistência a calor e chamas, está justamente em oferecer múltiplas camadas de segurança em uma única peça de vestuário. Trata-se de um conceito que elimina soluções ineficazes e arriscadas, como:
- Faixas retrorrefletivas bicolores aplicadas: apesar de frequentes, podem se soltar, se desgastar ou comprometer a resistência térmica do tecido base se não cumprirem com requisitos de resistência térmica. Além disso, exigem processos de costura que reduzem a durabilidade da peça.
- Colete refletivo sobreposto ao EPI: prática comum, mas que prejudica a mobilidade, aumenta o desconforto térmico e, em muitas ocasiões, leva o trabalhador a negligenciar o uso correto do equipamento. Um ponto crítico no uso desse tipo de equipamento é que muitas vezes ele não atende requisitos de proteção térmica.
A tecnologia integrada adotando parte da vestimenta em tecido de alta visibilidade diurna, por outro lado, incorpora a fluorescência e a resistência térmica desde a concepção do tecido, garantindo que nenhuma das funções se perca ao longo da vida útil da vestimenta.
A importância da visibilidade Diurna é Importante
A luz natural, por si só, não garante segurança. Mesmo durante o dia, fatores como neblina, chuva, poeira, fumaça, sombra ou poluição podem comprometer a visibilidade. Nessas condições, trabalhadores em rodovias, portos, aeroportos ou canteiros de obras podem se confundir com o cenário ao redor, sobretudo em ambientes urbanos e industriais movimentados.
Em locais com máquinas em operação, veículos pesados e fluxo intenso de pessoas e equipamentos, a rápida identificação visual de um trabalhador é decisiva para evitar atropelamentos e colisões. Para isso, as cores fluorescentes se destacam: laranja, amarelo e verde fluorescente possuem a capacidade de converter a luz ultravioleta do sol em luz visível, aumentando o contraste e tornando o trabalhador muito mais perceptível durante o dia. Esse efeito amplia significativamente a distância de detecção pelo olho humano, contribuindo para a prevenção de acidentes.
Um outro fator de extrema é importante a prevenção de fadiga visual, sabemos que motoristas e operadores de máquinas conseguem identificar com mais antecedência alguém usando vestimenta fluorescente, o que reduz reações bruscas e aumenta o tempo de resposta.
Normalização: segurança reconhecida internacionalmente
Do ponto de vista legal, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, há diretrizes que reforçam essa necessidade. No mercado norte-americano, a OSHA (Occupational Safety and Health Administration) e a ANSI (American National Standards Institute), por meio da norma ANSI/ISEA 107, estabelecem parâmetros claros de desempenho para alta visibilidade diurna, enquanto no Brasil a ABNT NBR 15292 define critérios semelhantes:
- Classe 1 – a menor visibilidade necessária para ser visto nos locais de trabalho;
- Classe 2 – visibilidade maior com maior cobertura corporal por faixas, particularmente o tronco;
- Classe 3 – a mais alta visibilidade necessária para ser avistado em ambientes complexos.
As duas normas, norte-americana e brasileira, são responsáveis por estabelecer critérios de desempenho para vestimentas de segurança de alta visibilidade, incluindo recomendações para trabalhadores em via pública.
Em 2015, a ANSI/ISEA 107 foi revisada para incorporar três tipos de vestimentas de alta visibilidade, dependendo da configuração das atividades de uso e trabalho: off-road, (Tipo O), rodovias e controle de tráfego temporário (Tipo R) e atividades de segurança pública (Tipo P).
Já a ABNT NBR 15292 pauta algo semelhante, dando enfoque a velocidade permitida nas vias associada a aproximação ao indivíduo, dentro da própria classe de riscos: 40 km/h na Classe 1, 80 km/h na Classe 2 e velocidades superiores a 80 km/h na Classe 3.
Uma outra referência internacional para vestimentas de alta visibilidade é a norma ISO 20471. Ela define requisitos para garantia do contraste durante o dia. Também estabelece níveis mínimos de área visível (quantos cm² de tecido fluorescente devem estar expostos). Obriga o uso de materiais retrorrefletivos (para noite), mas reforça que a fluorescência diurna é igualmente obrigatória. É importante ressaltar também, que existem Diretivas de Saúde e Segurança da União Europeia, como a 89/656/CEE, que exige que os empregadores forneçam vestimentas térmicas com visibilidade diurna. Se o risco é de atropelamento ou colisão em estradas, ferrovias, aeroportos, obras urbanas etc., a alta visibilidade diurna se torna obrigatória por lei.
Vestimentas de múltiplos riscos: a nova fronteira
A evolução tecnológica das vestimentas já não se limita a oferecer apenas resistência ao fogo repentino ou proteção contra arco elétrico. Hoje, a inovação está em desenvolver soluções integradas, capazes de proteger contra diversos riscos ao mesmo tempo.
Nos Estados Unidos, normas como a NFPA 70E (arcos elétricos) e a NFPA 2112 (fogo repentino) enfatizam que a proteção térmica deve permanecer intacta, mesmo quando associada à alta visibilidade. No Brasil, a NR 1destaca que todos os riscos presentes no ambiente de trabalho devem ser contemplados na análise e seleção de EPIs.[MB5]
Assim, os tecidos de alta visibilidade diurna com proteção térmica não são apenas uma inovação, mas uma resposta estratégica para organizações que buscam reduzir custos operacionais sem comprometer a segurança.
Mais do que norma, uma solução que salva vidas
Quando pensamos em rodovias, espaços confinados e locais de baixa luminosidade, é inevitável imaginar o risco de não ser visto a tempo. Mas quando levamos em conta que as características de alta visibilidade são igualmente importantes durante o dia, uma nova abordagem de análise de riscos é colocada em pauta na engenharia de segurança.
A vestimenta de alta visibilidade com proteção térmica é, nesse cenário mais amplo e dinâmico, um investimento que vai além do cumprimento da lei. É um compromisso ético, técnico e humano com a vida do trabalhador.
É nesse contexto que os tecidos de proteção térmica com características de alta visibilidade Diurna ganham relevância. Essa integração não apenas reduz custos operacionais, como também aumenta o conforto do trabalhador, melhorando a aceitação do EPI e, consequentemente, sua efetividade em campo.
Está gostando do tema? Na próxima parte desta série, vamos explorar a aplicação dessas vestimentas em plataformas, usinas e ambientes ao ar livre, onde a baixa luminosidade e as intempéries intensificam ainda mais os riscos.
Referências Bibliográficas
- WESTEX®. Combining High-Visibility & FR Resistance for Multi-Hazard Protection. 13 ago. 2018. Westex Blog. Disponível em: https://www.westex.com/blog/combining-high-visibility-fr-resistance-for-multi-hazard-protection.
- WESTEX®. How High-Visibility Fabrics Protect Workers. 15 jan. 2025. Westex Blog. Disponível em: https://westex.com/blog/how-high-visibility-fabrics-protect-workers.
- ANSI/ISEA 107-2015. American National Standard for High-Visibility Safety Apparel and Accessories. Arlington, VA: ISEA, 2015.
- NFPA 70E. Standard for Electrical Safety in the Workplace. Quincy, MA: NFPA, 2021.
- ABNT NBR 15292: Artigos Confeccionados – Vestimentas de segurança de alta visibilidade. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
- NFPA 2112. Standard on Flame-Resistant Clothing for Protection of Industrial Personnel Against Short-Duration Thermal Exposures from Fire. Quincy, MA: NFPA, 2023.