Trabalhando para a redução dos riscos térmicos nas instalações elétricas

Por Maria Chies

Espero que você esteja acompanhando nossos artigos sobre a futura norma ABNT NBR 17227! Se ainda não leu, confira agora mesmo os artigos 1, 2 e 3, com muita informação para que você já vá se preparando para o que vem no cenário normativo brasileiro e que vai influenciar diretamente a normalização latino-americana definitivamente!

Você conhece os conceitos de severidade e probabilidade em uma análise de riscos voltada a efeitos térmicos de arcos elétricos?

A análise de riscos é fundamentada na avaliação da intensidade dos efeitos resultantes de um perigo caracterizado (severidade), e da sua probabilidade de ocorrência mediante diversas condições de contorno.

O processo de cálculo de energia incidente estabelecido em todas as normas internacionais e na futura norma brasileira estabelece a estimativa de intensidade dos efeitos térmicos dos arcos elétricos, ou seja, é a avaliação da severidade, desempenhada por um profissional legalmente habilitado, um engenheiro eletricista.

Com base nessas informações é possível realizar a seleção das vestimentas de proteção térmica, no entanto, um processo pautado somente na severidade vai levar a uma seleção que pode muitas vezes inviabilizar uma atividade.

Nesse sentido, a norma vai recomendar em uma seção específica em seu conteúdo, a análise de probabilidade de ocorrência dos arcos elétricos, sob diferentes cenários e aspectos da instalação elétrica, para que os efeitos, ponderados por essa probabilidade, sejam mais realísticos e permitam a seleção adequada e propiciem a escolha com o equilíbrio de conforto, ergonomia e o uso do conceito de vestimenta para uso em um dia integral de trabalho.

Mas é somente avaliar severidade e probabilidade?

Se atentarmos para a hierarquia de controle dos riscos associados aos arcos elétricos, um dos pontos cruciais para um processo de sucesso nos estudos de energia incidente, que tem como base uma análise de riscos completa, é a mitigação dos efeitos térmicos e subsequente busca de soluções técnicas para a redução da energia incidente.

Trabalhar nos menores níveis de energia incidente é o cenário ideal para os trabalhadores que, quando envolvidos nas atividades com energia elétrica, poderão utilizar dos recursos otimizados, contando com o melhor conforto e condições ergométricas, possibilitando o melhor desempenho em suas tarefas quotidianas.

O projeto de uma instalação elétrica deve seguir a hierarquia de controle visando as proteções e arranjos das atividades que viabilizem os menores riscos possíveis, permitindo sempre a configuração de vestimentas e outros EPIs de proteção térmica mais leves e confortáveis, sem deixar de lado as características protetivas.

A norma traz, nesse sentido, técnicas recomendáveis internacionalmente para a redução de energia incidente em caso de ocorrência de arcos elétricos, utilizando os mais diferentes recursos disponíveis de proteções e sistemas de detecção de falhas, bem como técnicas de montagem e disposição de circuitos elétricos visando minimizar os efeitos térmicos de arcos elétrico, mas sempre deixando claro que o risco residual nunca pode ser negligenciado e a abrangência do EPI sempre é uma obrigação dos responsáveis pela análise e gerenciamento de riscos.

A norma também leva em conta a manutenção das instalações elétricas?

A última seção da Norma trata exatamente de operação e manutenção das instalações elétricas. A confiabilidade do sistema e prioritariamente a segurança de todos os trabalhadores envolvidos são a base de um processo de análise de riscos, e vão influenciar os procedimentos de estudo de energia incidente.

A abrangência dos sistemas de geração, transmissão, distribuição e usos finais de energia é colocada nesta seção, onde é discutida a importância da integridade de equipamentos, instalações físicas, instrumentos de inspeção e manutenção, e equipamentos de proteção, seja para os equipamentos ou mesmo para os trabalhadores envolvidos nessas instalações.

Novamente, a análise de riscos deve prever procedimentos para cada processo de operação, inspeção e manutenção, levando em conta os recursos disponíveis, as condições de acesso e de trabalho, os níveis de tensão, corrente e tempos de proteção, bem como as distâncias de trabalho, condições ambientais, espaços de trabalho e rotas de fuga, e a aplicabilidade de vestimentas de proteção dentro dos limites de aproximação segura.

Destaca-se a importância de não se subestimar os riscos dos arcos elétricos e seu raio de ação, levando-se em conta os diversos fatores laborais e particularidades de cada operação, fazendo com que a análise de riscos seja realmente realista, e leve em conta os cenários indicados como improváveis, mas que podem comprometer a segurança.

Espero que você esteja empolgado com a nova norma brasileira de energia incidente! Ela sinaliza um grande passo para os trabalhadores do setor elétrico e afins, e certamente irá fomentar a segurança em toda a América Latina. Seguiremos acompanhando a publicação efetiva da norma e trazendo todas as novidades aqui para você e sua organização!

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Maria Chies
Especialista em Riscos Térmicos